A natureza conservadora da escola
Evitemos os mal-entendidos: penso que o conservadorismo, tomado enquanto conservação, faz parte da essência mesma da actividade educativa cuja tarefa é sempre acarinhar e proteger alguma coisa — a criança contra o mundo, o mundo contra a criança, o novo contra o antigo, o antigo contra o novo. A própria responsabilidade alargada pelo mundo que a educação assume implica, como é óbvio, uma atitude conservadora. Mas, isto só é válido para o domínio da educação, ou melhor, para as relações entre crescidos e crianças e, de modo algum para o domínio político, onde agimos sempre entre e com adultos ou iguais. Em política, a atitude conservadora — que aceita o mundo tal como ele é e unicamente luta por preservar o status quo — só pode levar à destruição. E isto porque, nas suas grandes linhas como nos seus detalhes, o mundo está irrevogavelmente condenado à acção destrutiva do tempo, a menos que os humanos estejam determinados a intervir, a alterar, a criar o novo. As palavras de Hamlet, «o tempo está fora dos gonzos. Oh! sorte maldita, que nos fez nascer para restabelecer o seu curso», são verdadeiras para cada nova geração, ainda que, desde o início do nosso século, porventura tenham adquirido uma ainda validade maior do que anteriormente.
Hannah Arendt, "A Crise na Educação". Tradução de Olga Pombo, in Olga Pombo (org.), Quatro Textos Excêntricos. Relógio d’Água (2000).
Hannah Arendt, "A Crise na Educação". Tradução de Olga Pombo, in Olga Pombo (org.), Quatro Textos Excêntricos. Relógio d’Água (2000).
---------------------------------------------------------------------------------------------
Um dos grandes equívocos da educação em Portugal reside na incompreensão do carácter conservador da função educativa. Um dos sintomas dessa incompreensão está na estrutura orgânica de escolas e agrupamentos de escolas. A escola portuguesa é uma espécie de república onde todos são iguais. Este equívoco expressa-se na existência de órgãos como a Assembleia de Escola e a presença de alunos, funcionários e encarregados de educação no Conselho Pedagógico, mesmo que de forma restrita.
A escola republicana não pode ser uma república; a escola democrática não pode ser uma democracia. Há distinções fundamentais entre professores e alunos, há deveres e direitos absolutamente desiguais. A organização escolar normal está muito mais próxima de uma perspectiva aristocrática. Ora é da negação desta orientação aristocrática da escola que nascem os mal-entendidos que têm conduzido às políticas e práticas aberrantes dos últimos decénios.
Neste momento, os próprios professores que durante muito tempo resistiram ao assalto das doutrinas ilógicas importadas do EUA e de França, estão a interiorizar um conjunto de chavões que acabam por conduzir a práticas educativas absolutamente dissolventes. Ao quererem ser modernos, ao quererem estar de acordo com os ventos da mudança, adoptam um jargão inqualificável que se traduz por práticas lectivas aberrantes e por uma cada vez maior permissividade. Neste momento, os professores, ao deixarem invadir o seu território, por todo este lixo ideológico (o eduquês) estão a demitir-se do seu papel conservador, estão a deixar que a ideologia do Ministério da Educação destrua as novas gerações, as torne um conjunto de gente iletrada.
Em tudo isto, há um extraordinário equívoco, que Arendt desmonta: para que a sociedade se transforme é necessário uma escola em contínua transformação. A verdade é radicalmente outra: precisamos de uma escola conservadora como ponto de apoio às transformações sociais. Foi a ignorância deste preceito que conduziu a educação ocidental a um beco do qual não se vislumbra saída. Se os professores não se derem conta do abismo para onde se estão a deixar conduzir, pode chegar o dia em que lhe peçam contas e lhes perguntem como puderam ser tão coniventes com aquilo que estava a destruir a sua missão, uma das mais nobres, de transmitir os valores fundamentais da sociedade (valores vindos do passado) às novas gerações. Não terá chegado já a altura dos professores assumirem a consciência da essência da sua missão?
Um dos grandes equívocos da educação em Portugal reside na incompreensão do carácter conservador da função educativa. Um dos sintomas dessa incompreensão está na estrutura orgânica de escolas e agrupamentos de escolas. A escola portuguesa é uma espécie de república onde todos são iguais. Este equívoco expressa-se na existência de órgãos como a Assembleia de Escola e a presença de alunos, funcionários e encarregados de educação no Conselho Pedagógico, mesmo que de forma restrita.
A escola republicana não pode ser uma república; a escola democrática não pode ser uma democracia. Há distinções fundamentais entre professores e alunos, há deveres e direitos absolutamente desiguais. A organização escolar normal está muito mais próxima de uma perspectiva aristocrática. Ora é da negação desta orientação aristocrática da escola que nascem os mal-entendidos que têm conduzido às políticas e práticas aberrantes dos últimos decénios.
Neste momento, os próprios professores que durante muito tempo resistiram ao assalto das doutrinas ilógicas importadas do EUA e de França, estão a interiorizar um conjunto de chavões que acabam por conduzir a práticas educativas absolutamente dissolventes. Ao quererem ser modernos, ao quererem estar de acordo com os ventos da mudança, adoptam um jargão inqualificável que se traduz por práticas lectivas aberrantes e por uma cada vez maior permissividade. Neste momento, os professores, ao deixarem invadir o seu território, por todo este lixo ideológico (o eduquês) estão a demitir-se do seu papel conservador, estão a deixar que a ideologia do Ministério da Educação destrua as novas gerações, as torne um conjunto de gente iletrada.
Em tudo isto, há um extraordinário equívoco, que Arendt desmonta: para que a sociedade se transforme é necessário uma escola em contínua transformação. A verdade é radicalmente outra: precisamos de uma escola conservadora como ponto de apoio às transformações sociais. Foi a ignorância deste preceito que conduziu a educação ocidental a um beco do qual não se vislumbra saída. Se os professores não se derem conta do abismo para onde se estão a deixar conduzir, pode chegar o dia em que lhe peçam contas e lhes perguntem como puderam ser tão coniventes com aquilo que estava a destruir a sua missão, uma das mais nobres, de transmitir os valores fundamentais da sociedade (valores vindos do passado) às novas gerações. Não terá chegado já a altura dos professores assumirem a consciência da essência da sua missão?
1 comentário:
Li o teu artigo ( Uma poética do nada )no último Torrejano. Notável, demasiado para a opinião pública alarve. Parabéns!
Euardo Bento
Enviar um comentário