04/07/07

A mediocridade das estaturas

Nem sempre gostei do que escreveu Baptista-Bastos, talvez preconceito meu, mas reconheço que é um excelente cronista. Leia-se um excerto da sua crónica no DN de hoje (para ler tudo, clicar aqui).

«Digo-o de forma amistosa: Sócrates não resiste a dois assaltos. Posa de leão indomesticável, mantém um semblante grave, mas escapule-se, furtivo, à mais leve suspeita de distúrbio. A pesarosa cena, no Porto, fornece-nos o retrato de um homem que recusa enfrentar os problemas por si próprio criados e que transforma o abstracto numa vitória sobre o concreto.

As pessoas precisam de símbolos de destemor, porque desejam rever-se nessa espécie de silogismo que faz do exemplo uma criação da esperança. Cunhal, Soares, Sá Carneiro, Vasco Gonçalves, vivem nessa matriz. Podemos gostar, ou não, daquilo que foram ou ainda representam. Como diria o meu amigo Luís Pignatelli, boémio e poeta, eles conservavam a nudez de um bom verso que admite todas as rimas. Aceitaram as imprecações e as injúrias, a pressão dos dias e a convulsão de anos tumultuosos, mas nunca se esconderam. José Sócrates pertence à congregação de fugitivos cujos protótipos mais próximos podemos encontrar em António Guterres e em Durão Barroso. O destino que escolheram não resgata o seu absentismo nem acrescenta lustre à mediocridade das suas estaturas.»

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