Rui Tavares - uma omissão e um equívoco
O artigo de opinião de Rui Tavares, no Público de hoje, tem por pano de fundo o artigo de ontem de Ana Benavente. Sublinharia duas coisas, uma omissão e um equívoco.
Escreve Rui Tavares: “Ana Benavente pergunta-se se "teria sido necessário aumentar as diferenças entre ricos e pobres? Criar mais desemprego? Enviar a GNR contra grevistas no seu direito constitucional? Penalizar as pequenas reformas com impostos?" e muitas outras coisas semelhantes, cada uma das quais encerra um debate infindável em si mesmo.” As muitas outras coisas semelhantes referem-se fundamentalmente à situação do professorado não superior, onde Ana Benavente gasta o seguinte espaço: «Teria sido necessário pôr os professores de joelhos num pelourinho? Impor um estatuto baseado apenas nos últimos sete anos de carreira? Foi o que aconteceu com os "titulares" e "não titulares", uma nova casta que ainda não tinha sido inventada até hoje. E premiar "o melhor" professor ou professora? Não é verdade que "ninguém é professor sozinho" e que são necessárias equipas de docentes coesas e competentes, com metas claras, com estratégias bem definidas para alcançar o sucesso (a saber, a aprendizagem efectiva dos alunos)?»
A omissão, mesmo casual, de Rui Tavares é muito interessante pois revela, mesmo à esquerda, um estado de alma relativamente à situação do professorado português. Esse estado de alma é composto por vários elementos: a) um profundo desprezo dos professores do ensino superior pelos outros professores, por acaso aqueles que lhes enviam os alunos e que lhes permitem trabalhar. Este desprezo é partilhado pelas “elites” políticas e sociais; b) uma incompreensão profunda da sociedade e dos fazedores de opinião da missão do professor do ensino não superior; c) um acordo tácito com a humilhação que o actual governo infligiu ao professorado, humilhação bem retratada por Ana Benavente; d) a incapacidade de reconhecer que o professorado foi eleito como vítima sacrificial e executado na praça pública em nome do défice. A redução do défice é feita, essencialmente, à conta desse professorado. É este professorado que, ao ser coagido a empobrecer, permite a outros professores do ensino não inferior e a outras funções públicas manterem o seu estatuto económico. Interessante omissão.
O equívoco de Rui Tavares reside num outro lugar e sobre outra matéria. Diz o articulista: «Um governo de esquerda é diferente de um de direita e encerra anseios e frustrações diferentes. Para a direita, especialmente uma tão conservadora como a portuguesa, o exercício do poder faz parte da ordem natural das coisas: o governo serve para manter, o mundo é que tem a triste mania de mudar.»
O equívoco reside nesta falsa distinção entre esquerda e direita. Faz parte da retórica da esquerda a ideia de que a direita pretende manter um qualquer status. Não há ideia mais falsa do que essa. A direita é claramente uma força que impele à mudança e à mudança contínua. Se há força política transformadora da realidade é a direita. Só que essa transformação, por norma, ocorre na acentuação dos privilégios, na destruição de determinados direitos sociais, no potenciar de transformações tecnológicas que favorecem os fortes e enfraquecem os mais fracos. A direita, e certos governos socialistas como o actual, não querem manter o que está, querem alterar a situação e alterá-la radicalmente. A avidez não tem limites.
Escreve Rui Tavares: “Ana Benavente pergunta-se se "teria sido necessário aumentar as diferenças entre ricos e pobres? Criar mais desemprego? Enviar a GNR contra grevistas no seu direito constitucional? Penalizar as pequenas reformas com impostos?" e muitas outras coisas semelhantes, cada uma das quais encerra um debate infindável em si mesmo.” As muitas outras coisas semelhantes referem-se fundamentalmente à situação do professorado não superior, onde Ana Benavente gasta o seguinte espaço: «Teria sido necessário pôr os professores de joelhos num pelourinho? Impor um estatuto baseado apenas nos últimos sete anos de carreira? Foi o que aconteceu com os "titulares" e "não titulares", uma nova casta que ainda não tinha sido inventada até hoje. E premiar "o melhor" professor ou professora? Não é verdade que "ninguém é professor sozinho" e que são necessárias equipas de docentes coesas e competentes, com metas claras, com estratégias bem definidas para alcançar o sucesso (a saber, a aprendizagem efectiva dos alunos)?»
A omissão, mesmo casual, de Rui Tavares é muito interessante pois revela, mesmo à esquerda, um estado de alma relativamente à situação do professorado português. Esse estado de alma é composto por vários elementos: a) um profundo desprezo dos professores do ensino superior pelos outros professores, por acaso aqueles que lhes enviam os alunos e que lhes permitem trabalhar. Este desprezo é partilhado pelas “elites” políticas e sociais; b) uma incompreensão profunda da sociedade e dos fazedores de opinião da missão do professor do ensino não superior; c) um acordo tácito com a humilhação que o actual governo infligiu ao professorado, humilhação bem retratada por Ana Benavente; d) a incapacidade de reconhecer que o professorado foi eleito como vítima sacrificial e executado na praça pública em nome do défice. A redução do défice é feita, essencialmente, à conta desse professorado. É este professorado que, ao ser coagido a empobrecer, permite a outros professores do ensino não inferior e a outras funções públicas manterem o seu estatuto económico. Interessante omissão.
O equívoco de Rui Tavares reside num outro lugar e sobre outra matéria. Diz o articulista: «Um governo de esquerda é diferente de um de direita e encerra anseios e frustrações diferentes. Para a direita, especialmente uma tão conservadora como a portuguesa, o exercício do poder faz parte da ordem natural das coisas: o governo serve para manter, o mundo é que tem a triste mania de mudar.»
O equívoco reside nesta falsa distinção entre esquerda e direita. Faz parte da retórica da esquerda a ideia de que a direita pretende manter um qualquer status. Não há ideia mais falsa do que essa. A direita é claramente uma força que impele à mudança e à mudança contínua. Se há força política transformadora da realidade é a direita. Só que essa transformação, por norma, ocorre na acentuação dos privilégios, na destruição de determinados direitos sociais, no potenciar de transformações tecnológicas que favorecem os fortes e enfraquecem os mais fracos. A direita, e certos governos socialistas como o actual, não querem manter o que está, querem alterar a situação e alterá-la radicalmente. A avidez não tem limites.
Sem comentários:
Enviar um comentário