Hans Jonas e a necessidade de uma nova ética
O Prometeu definitivamente desagrilhoado, a quem a ciência confere forças até aqui desconhecidas e a economia o impulso desenfreado, reclama uma ética que, através de entraves livremente consentidos, impeça que o poder do homem se torne, para ele, uma maldição. A tese liminar deste livro é a seguinte: a promessa da técnica moderna transformou-se numa ameaça; melhor, esta está indissoluvelmente ligada àquela. Ultrapassa a constatação de uma ameaça física. A submissão da natureza destinada à felicidade humana trouxe, pela desmesura do seu sucesso, que agora se estende tanto à natureza como ao homem, o maior desafio que o fazer do homem já colocou ao ser humano. Tudo neste desafio é inédito, sem comparação possível com aquilo que o precedeu, tanto do ponto de vista da modalidade como do ponto de vista da ordem de grandeza: aquilo que o homem pode, hoje em dia, fazer e aquilo que, no seguimento, será coagido a continuar a fazer, no exercício irresistível deste poder, não tem equivalente na experiência passada. Toda a sabedoria herdade, relativa ao comportamento justo, estava talhada em vista dessa experiência. Nenhuma norma tradicional nos instrui então sobre as normas do «bem» e do «mal às quais devem ser submetidas as modalidades inteiramente novas do poder e das suas criações possíveis. A terra nova da prática colectiva, na qual entrámos com a tecnologia de ponta, é ainda uma terra virgem da teoria ética. [Do Prefácio. Tradução do francês.]
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