08/12/07

A Cidade Flutuante - 33. Vejo passar os que passaram

Vejo passar os que passaram
e as coisas que amavam
e o que diziam
e o que contavam.

Tão diferentes eram
e não faziam mais do que um
e se havia disputas e guerras
e se havia gente de temer
e ódios longos e sem fim,
tudo se fundiu
na indiferença que a terra
consigo traz.

Talvez uma pedra ou uma flor,
uma casa erguida no campo da morte,
acordem diferenças desta vida,
mas não passam de um devaneio
que só lembra
aos que na vida pensam na morte
como uma terra prometida.

Vejo passar os que passaram
e rio daquilo que sou e do que fui
e do que serei,
se ainda tempo houver
para o futuro declinar
em mim uma árvore ou um riso,
talvez um pássaro aberto
no céu azul
ou um peixe na água do rio.

[JCM. A Cidade Flutuante. 1993/2007]

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