As políticas educativas, em muitos países ocidentais, destinam-se a tentar resolver a contradição assinalada num post de ontem (ver,
Uma contradição no mundo do consumo) e que corrói as sociedades modernas. Na generalidade desses países, existem dois sistemas de educação. Um sistema público, onde os níveis de exigência científica, impostos politicamente, são baixos e onde as regras comportamentais são lassas, permissivas, onde as emoções e o desejo prevalecem sobre a razão. Este sistema é para aqueles que não têm dinheiro ou não estão nos «sítios correctos». Ao mesmo tempo, há colégios particulares, legitimados pela liberdade de ensinar, onde as elites políticas, sociais e culturais, colocam os seus filhos.
As mesmas elites que se batem politicamente por uma escola permissiva, que não admitem o rigor e a exigência, que fomentam a pedagogice piegas e «compreensiva», na escola pública, querem para os seus filhos escolas rigorosas, exigentes, pouco dadas às «inovações» pedagógicas, escolas com valores tradicionais, onde os alunos vão vestidos de forma conservadora, não há «beijinhos» e «marmelada» em público ou em privado, nem lugar para a compreensão e aceitação de comportamentos indisciplinados.
Porque será? Fundamentalmente, para tentar preparar as novas gerações dirigentes, sem que estas passem pela educação para consumir que é imposta aos filhos da maioria, ou pelo menos para a atenuar. É neste âmbito que se deverá ler, hoje em dia, a preocupação de certas instituições religiosas que ministram o ensino.
Aquilo que se está a passar em Portugal, há já muitos anos e agora com mais vigor, é uma das formas de discriminação suave e doce (toda a gente tem acesso ao bem da educação) mais abjectas. As elites com acesso ao poder não recuam um milímetro na construção de um edifício escolar baseado numa «espécie» de aprendizagem, onde a vida escolar é uma «espécie» de magazine. Que isto não se tenha tornado claro muito mais cedo, deve-se aos professores, casta conservadora, que têm evitado o pior e, apesar das difíceis condições em que têm trabalhado, têm conseguido manter viva a chama da igualdade de oportunidades dentro do sistema educativo e da sociedade democrática.
É neste âmbito que deve ser lida a investida das elites portuguesas, através do Ministério da Educação, contra os professores da escola pública. Não se lhes perdoa que tenham ensinado, não se lhes perdoa que tenham enviado alunos das camadas mais baixas para as melhores universidades. Isso paga-se. É isso que está a acontecer. Através do governo do Partido Socialista assiste-se a um acto de vingança social contra os professores portugueses. É evidente que esta vingança social não aparece como é. Pelo contrário, surge embrulhada numa ideologia delicodoce de defesa da escola pública, de igualdade de oportunidades, enfim como um grande embuste ideológico (ver aqui ideologia à maneira marxiana, como consciência invertida). É esta tarefa moralmente degradante e politicamente injusta que coube aos actuais governantes.