03/12/07

A Cidade Flutuante - 28. Havia lojas e ruas e praças

Havia lojas e ruas e praças
e gente
e um tumulto de pombos
a bater as asas.

Tudo era tão estreito,
um mundo acanhado
de jardins suaves
e passos nunca apressados.

Havia tílias e acácias,
roseiras espinhadas,
um canteiro de violetas
e vasos de aspidistras
junto aos limoeiros.

Se o Verão chegava,
acendiam-se fogueiras
e rapazes e raparigas
saltavam de mãos dadas
na esperança de um sorriso
ou de um bater de asas.

Não há lojas nem gente pelas praças,
nem fogueiras se vem o Verão,
nem ruas com gente a sair das casas.

Aos rapazes e às raparigas
há muito se apagou o coração.

[JCM. A Cidade Flutuante. 1993/2007]

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