A Cidade Flutuante - 26. Crescem os meus mortos
Crescem os meus mortos
lá na terra que será a deles.
Abandonaram-me
ao frio da noite,
às ruas onde, cego,
só vejo
a sua ausência.
Caminho,
paro aqui e ali,
eis um vulto,
e chego-me a ele,
e ele desvanece-se no crepúsculo.
Calo-me
e escondo-me
e espreito a uma esquina.
E lá estão eles,
juntos,
os mortos, eles me abandonaram,
aquecem-se sob o véu da noite,
olham distraídos as casas que há,
foram as deles, dizem,
e falam de mim e de ti
e da hora
em que o silêncio da vida desagua
no ruído da morte,
ela por fim virá.
[JCM. A Cidade Flutuante. 1993/2007]
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