A Queda

Encerra-se na figura do ditador uma certa simbolização do país e do povo que fomos, que talvez ainda sejamos. Mas essa simbolização não deve ser apenas compreendida como conjunto de características comunitárias que encontrariam na pessoa do antigo chefe do governo a sua expressão concentrada. A virtude de Salazar deve também ser vista como um negativo fotográfico, o outro lado daquilo que, como povo, temos de vicioso. É esta natureza simbólica da personagem, uma natureza ambivalente, que gera a relação de amor e de ódio que os portugueses mantêm com ela. Talvez o primeiro passo para a sua compreensão passe por uma espécie de psicanálise do símbolo que Salazar é, pelo menos para evitar as armadilhas da projecção e do transfert.
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