24/08/08

O triunfo de uma nação

Os Jogos Olímpicos de Pequim, terminados hoje, são uma espécie de retorno a uma época que parecia terminada com o fim da Guerra Fria. Se durante décadas a Europa de Leste e o Ocidente se defrontaram politicamente através dos resultados dos seus atletas, esse espírito parecia ter acabado. Mas Pequim foi o momento do seu retorno. A China fez dos Jogos uma exibição marcadamente ideológica da sua presença no mundo. Por ideologia não se deve entender, porém, o comunismo, mas o nacionalismo chinês. O comunismo, entendido como ideologia proveniente do marxismo, parece não ter qualquer influência por aqueles lados e o Partido Comunista representa apenas uma forma de congregação de uma elite política que segura ferreamente um poder autocrático.

Assim, o que esteve em causa não foi a disputa sobre a superioridade de um regime político-económico (socialismo versus capitalismo), mas a afirmação de uma potência ascendente na cena internacional. Desde a organização até à competição propriamente dita, a China nada descurou e obteve um triunfo em toda a linha. Mas que mensagens deixou a China ao mundo? Por entre a racionalidade que caracteriza os dirigentes chineses, ficou claro que a China quer ser mais do que uma potência de segunda ordem. Ela aspira ao papel de hiperpotência e mesmo ao de potência hegemónica. Em segundo lugar, tornou-se evidente que o horizonte para onde a China pretende caminhar não é o de continuar a ser eternamente o lugar da mão-de-obra barata. Quem aspira a hegemonia política mundial só o pode fazer se aspirar a ser também uma hiperpotência científico-tecnológica. Os jogos serviram para sublinhar este aspecto.

O mais curioso, todavia, é que o caminho que está a ser seguido não é, como aconteceu no Ocidente, o corte radical com a tradição. Pelo contrário, o que assistimos foi a uma subtil montagem onde tradição e modernidade se fundiram escoradas na afirmação do poder do Estado-Nação. Os Jogos Olímpicos foram o triunfo de uma nação, num tempo em que os políticos europeus não sabem que fazer com os seus próprios estados-nação.

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