O 11 de Setembro chileno e a cadeira do barbeiro
Onze de Setembro é um dia trágico. O primeiro onze de Setembro negro de que me lembro é o de 1973. Tinha então 17 anos acabados de fazer, frequentava os círculos da oposição ao regime de Caetano e estava cheio de ilusões sobre a natureza do mundo. O golpe do General Augusto Pinochet contra o governo eleito de Salvador Allende é uma das páginas mais negras da história da América Latina, e não faltam páginas muito negras nessa história. Prisões, exílios, assassinatos políticos (ver post de Vítor Dias no o tempo das cerejas*).
Tudo isso deixou uma viva recordação em mim. E se há muitos, muitos anos, não partilho de uma certa retórica anti-americana, nunca esqueci os anos funestos da intervenção norte-americana na América Latina: o medo do comunismo e a defesa dos interesses privados eram mais fortes do que o seu forte impulso para a evangelização democrática.
Mas o que me vem à memória é o barbeiro que na altura frequentava. Passados poucos dias do golpe, estava eu naquela tenebrosa tarefa de entregar a cabeça às mãos de outrem, oiço, da parte do barbeiro proprietário, um panegírico em apoio aos golpistas chilenos. Convicções políticas, dirá o leitor. Puro engano. Interesses corporativos. O nosso barbeiro estava encantado com a rapidez com que a Junta golpista obrigava os cabeludos (vivia-se na sequela dos anos 60) a cortar o cabelo. Há coisas que só se descobrem na cadeira do barbeiro.
Mas o que me vem à memória é o barbeiro que na altura frequentava. Passados poucos dias do golpe, estava eu naquela tenebrosa tarefa de entregar a cabeça às mãos de outrem, oiço, da parte do barbeiro proprietário, um panegírico em apoio aos golpistas chilenos. Convicções políticas, dirá o leitor. Puro engano. Interesses corporativos. O nosso barbeiro estava encantado com a rapidez com que a Junta golpista obrigava os cabeludos (vivia-se na sequela dos anos 60) a cortar o cabelo. Há coisas que só se descobrem na cadeira do barbeiro.
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