25/09/07

Santana Castilho - "Quando tudo é permitido e nada acontece"

Mais do que mais uma consentida oportunidade para a ministra retomar o discurso plastificado, que conhecemos sobejamente, teríamos apreciado uma intervenção jornalística preparada e inteligente para a confrontar com o imenso contraditório a que nunca responde, senão com a demagogia que lhe toleram. Um exemplo? É aceitável que passe sem imediata correcção a afirmação falsa da ministra quando referiu, a propósito do desemprego dos professores, que nas duas últimas décadas se perdeu meio milhão de estudantes no primeiro ciclo do ensino básico, quando as estatísticas oficiais, que ela bem conhece, situam esse número nos 328.022 alunos? Outro exemplo? Em determinada altura, a ministra acusou os sindicatos de estarem contra uma série de medidas de política educativa, significativamente as mais populistas. Mário Nogueira, de forma incisiva, desmentiu, uma a uma, as afirmações de Lurdes Rodrigues. Para o telespectador seria expectável que esta diametral oposição fosse esclarecida. Mas a ministra arrumou a questão, cara lívida de ódio, com um "não tenho nada a dizer". E o programa prosseguiu como se o que aconteceu fosse de somenos e não merecesse aprofundamento e esclarecimento. [Público, 25 de Setembro de 2007]
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Eu não sou um particular adepto da FENPRPF ou de qualquer outros sindicato dos professores, mas reparei muito bem naquilo que o professor Santana Castilho também reparou: na clareza com que Mário Nogueira desmentiu as atoardas que foram postas a correr sobre as posições dos professores e dos sindicatos sobre algumas das medidas do Ministério da Educação. Reparei, ainda, na «cara lívida de ódio» e no «"não tenho nada a dizer"» da senhora Ministra. Mas reparei também na forma como a comunicação social e a sociedade civil está disposta a sacrificar os professores portugueses. É esta a verdadeira força da senhora Ministra. Mas esta força é a mesma que, no tempo de Salazar, fez com que a escolaridade obrigatória passasse de 4 para 3 anos. Quem está nas escolas sabe muito bem o esforço que é necessário para ensinar a uma quantidade incalculável de alunos que não quer aprender, mas é sem surpresa que assiste ao sacrifício público do professorado às mãos de elites de 3.ª e de demagogos sem princípios. No fundo, a única coisa importante é que se salvaguardem os alunos que frequentam os bons colégios de Lisboa e Porto. O resto é para fazer de conta.

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