Ibéria ou um Saramago liberal
Gosto muito (mas gosto mesmo) das diversas espanhas, mas não gostava de ser espanhol e iberista ainda menos. Gosto de ser o que sou. Dito isto, chamo a atenção para um pequeno detalhe da posição de Saramago, posição que vem sendo rebatida, até pelo Presidente da República. Saramago tem toda a razão quando diz que Portugal, “com dez milhões de habitantes”, teria “tudo a ganhar em desenvolvimento” se houvesse uma “integração territorial, administrativa e estrutural” com Espanha. Isto é a mais pura das verdades. É a pequena dimensão e a natureza periférica que permite às saloias elites portuguesas fazer gato-sapato do país. Num espaço político mais amplo, seriam removidas com alguma brevidade. O erro de Saramago reside, porém, noutro lado: um país ou uma pátria é muito mais do que um lugar de desenvolvimento económico. É uma cultura, é uma dimensão simbólica, é uma razão atravessada pelo coração. Integrados na Ibéria seríamos, por certo, mais ricos. Mas há algum português que acredite, no fundo do coração, que de Espanha virá bom vento ou bom casamento? Tirando Saramago, não vejo mais ninguém… Saramago, com tanta preocupação económica, até parece um liberal. Sermos pobres e aturarmos as nossas saloias elites é o preço que pagamos pelo prazer de sermos portugueses, ou pelo menos pelo prazer de não sermos espanhóis. Tudo tem um preço.
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