A Declinação da Sombra VI
Um súbito bater de asas,
o uivo longínquo do cão.
Lento universo de barro e pó,
a casa de sons e folhas caídas,
onde mãos de musgo estremeciam
quando a noite vinha branda
sentar-se no seu trono como rainha.
Desprendia-se da macieira um odor azul,
a cinza disposta sobre a terra…
E quando na estrada passava quem ia,
cobria-se a casa de pano:
a seda, o linho, o algodão no fértil engano.
Assim fiavam as fiandeiras
e o tempo em suas mãos corria,
um súbito bater de asas,
uma sombra ao sol do meio-dia.
Da árvore, uma folha cai.
Nela uiva o cão,
que no grito da tarde
se desprende
e apressado logo se vai.
JCM, A Declinação da Sombra, 1998
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