08/09/07

A Declinação da Sombra V

O súbito desmoronar das terras,
as águas inquietas pelo Inverno,
a noite bebida até à luz do orvalho.

Se pudesse um dia à frase mais simples
chegar, à vocálica entoação de um nome,
rosas de seda haveria em teus cabelos,
e puros e abertos seriam os vagidos
brancos e lúcidos do olhar.

É Inverno, e nele desaba o Outono,
uma casa de colmo e adobe,
onde refulge, na cintilação da tarde,
a voz da gata que há muito
os jardins de sal e terra abandonou.

Segue agora em veios de mármore,
o mapa incerto, a conjura de vento e mar,
a geada branca presa no calcário.
Por dentro mia não a felina
mas a luz de Inverno,
cântico frágil que no Outono
a morte assim o germina.

JCM, A Declinação da Sombra, 1998

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