07/08/07

Diário de um banhista - VII

Continua a nortada, apesar da temperatura por aqui ter subido. Olho a praia sentado numa esplanada, vejo veraneantes infelizes a segurar chapéus, a correr atrás disto e daquilo, o vento a tudo empurra. As águas ainda estão bravias e a bandeira vermelha, imagino. Mais um dia sem por pé na areia.

Como mortal, este triste banhista submete-se aos imperativos do corpo. Há que satisfazer os impulsos homeostáticos. Triste sorte a dos humanos. E lá me desloco ao hipermercado, que não é assim tão hiper, mas enfim, se temos de comer…

Foi assim que me vi mergulhado num mar de pessoas, a ulular em torno de prateleiras e bancas, os olhos vorazes e as mãos como garras a encher cestos e carros, numa orgia de sacos de plástico, dinheiro de plástico, chinelos de plástico a sonhar comida de plástico. Alumiou-se então o cérebro e percebi, nesse instante, o sorriso de plástico do nosso primeiro-ministro, o Eng.º Sócrates. Numa democracia de sacos de plástico, num povo cada vez mais plastificado, quem melhor para dirigir a plastificação geral?

Vem uma pessoa a banhos para descobrir a essência da nação. Portugal é um país de plástico. Um dia até a areia será de plástico. É o plano tecnológico, cheio de inovações e projectos para desenvolver a pátria. Haja engenheiros, pensei enquanto passava o cartão no terminal da caixa. Recolho ao lar e oiço, ao fundo, o bater das ondas e o sopro do vento. Éolo continua indisposto, Posídon não está melhor. É duro ser um banhista numa pátria de marinheiros. Melhores dias virão.

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