Cesário Verde - V. Lágrimas
Ela chorava e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos,
Brilhavam como pérolas os prantos.
Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-se cantando alegres cantos.
E dizia-lhe então, de olhos enxutos:
- “Tu pareces nascida na rajada,
“Tens despeitos raivosos, resolutos:
“Chora, chora, mulher arrenegada;
“Lacrimeja por esses aquedutos…
- “Quero um banho tomar de água salgada.”
Cesário Verde, Obra Poética Integral
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