04/08/07

Cesário Verde - V. Lágrimas

Ela chorava e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos,
Brilhavam como pérolas os prantos.

Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-se cantando alegres cantos.

E dizia-lhe então, de olhos enxutos:
- “Tu pareces nascida na rajada,
“Tens despeitos raivosos, resolutos:

“Chora, chora, mulher arrenegada;
“Lacrimeja por esses aquedutos…
- “Quero um banho tomar de água salgada.”

Cesário Verde, Obra Poética Integral

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