05/08/07

Diário de um banhista - V

Domingo. Hoje não há saga do pobre banhista. Os banhos de mar, quer dizer, as visitas à praia, estão, cá por casa, proscritos nos dias que outrora eram os do Senhor. É questão de sanidade mental, oiço dizer. Concordo. Mas uma regra não é uma lei, e há que desconfiar: quando chegará o dia em que a regra dá lugar à malfadada excepção?

Curiosamente, hoje que me levantei tarde, deu-me um súbito desejo de ir à praia e fazer jus à minha condição de banhista ou de pré-banhista. Tempo cinzento, uma aragem fresca, ameaça de chuviscos. É em dias assim que o corpo me puxa para o mar. Sonho com praias vazias, o vento a bater as águas e a cortar a face, o sol oculto por nuvens escuras e o extenso areal libertado da presença humana. Mesmo para os humanos a humanidade é um problema. Hoje, domingo e tempo incerto, será possível?

Comprar os jornais, tomar café, dar um giro e ver as praias. Ingenuidade minha, a humanidade oferece-me o esplendor dos seus corpos sobre as areias, dentro de água, corpos que se agitam como se temessem a imobilidade eterna. Resigno-me e, melancólico, penso que ainda não será hoje que a excepção toma o lugar da regra. Vou fotografar naturezas mortas, materiais inúteis, lixos, a sombra projectada pela humanidade.

Balanço: oitavo dia junto ao mar, idas à praia = 1 (uma), banhos de mar = 0 (zero). Não há razão para queixas. Nada melhor que os tempos de praia.

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