13/04/09

Pensar e falar

Com efeito, toda a degradação individual ou nacional é imediatamente anunciada por uma degradação rigorosamente proporcional na linguagem. Como poderia o homem perder uma ideia ou apenas a rectidão de uma ideia sem perder a palavra ou a justeza da palavra que a exprime? E, ao contrário, poderia ele pensar mais ou melhor sem o manifestar de imediato pela sua linguagem? [Joseph de Maistre, Les Soirées de Saint-Petersbourg. Deuxième entretien]
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A precisão da linguagem é a outra face da precisão do pensamento e não há pensamento rigoroso sem linguagem rigorosa. Quando a linguagem das novas gerações, e das mais velhas também, atinge o grau de degradação em que hoje se encontra, não é apenas a faculdade de falar que se encontra diminuída. É a faculdade de pensar, o entendimento, que perde os seus instrumentos e se degrada. A permissividade com que se trata a língua é o outro lado do desprezo social que se tem pelo acto de pensar. Mas é este acto de pensar que permite ao homem compreender o mundo, os seus semelhantes e a si mesmo. Mais: é pelo acto de pensar que afirma a sua diferença específica com os animais não racionais. A degradação da linguagem não é apenas uma degradação da nossa capacidade de comunicar ou exprimir o que se passa em nós, é uma degradação da nossa natureza, uma diminuição da nossa humanidade. Estudar gramática, aumentar o léxico, apreender a sua dimensão semântica, não são exercícios pueris, mas formas de nos tornarmos humanos.

1 comentário:

maria correia disse...

Tem toda a razão no que diz no seu texto. Talvez não fosse má ideia inserir no currículo escolar, além da disciplina de Língua Portuguesa, uma disciplina de Gramática, só, pura e simples e outra de...Introdução à Retórica. Talvez se corrigisse o actual balbuciar atabalhoado da maior parte dos jovens de hoje em dia. Ah, claro, disciplinas essas leccionadas por professores com uma alta cultura geral eMestres na matéria que ensinam. O que também não existe muito por aí.