A crise e a oportunidade
Ana Paula Vitorino, obscura secretária de Estado dos Transportes, com a finalidade de atrair os empresários brasileiros a Portugal, afirmou, numa feira internacional de logística, coisas como estas: «o Portugal de há 10 anos não existe mais»; «o Governo português está a transformar a crise numa oportunidade para dar um salto em frente para um patamar de maior competitividade»; «Temos neste momento um Portugal moderno e desburocratizado».
Sempre que leio coisas como estas, pergunto-me se existe alguém que se deixe convencer por estes lugares comuns. É evidente que o Portugal de há 10 anos não existe mais, como o de há cinco ou o de há três. Depois desta banalidade, alguém acreditará que por cá o governo está a transformar a crise numa oportunidade? Toda a gente sabe que essas coisas se lêem nos cursos e cursilhos de economia e de gestão. Transformar crises em oportunidades é um belo chavão, mas fazê-lo mesmo, acontece apenas nos casos excepcionais e estes são a excepção e não a regra. Tomara Portugal não ver desaparecer parte substancial da sua economia, quanto mais aproveitar a crise para se afirmar como país de economicamente de excepção e competitivo por excelência. Onde estão as evidências empíricas dessa transformação é coisa que nós, pobres portugueses, não sabemos e a senhora secretária de Estado esqueceu-se de informar. A não ser que as oportunidades sejam a desburocratização do país. Mas basta visitar uma escola, um hospital, uma instituição pública para perceber que a desburocratização só existe na imaginação fértil da gente do governo. Já estamos todos a ver os empresários brasileiros a tomar o avião para Portugal, para assim aproveitarem rapidamente a excepção que este paraíso tão ditoso, devido ao governo de tais filhos, é.
Adenda: quando escrevi o post, ainda não tinha lido isto. Parece que o país que está a transformar a crise numa oportunidade vai ver a sua economia recuar 3,5%, nas previsões sempre amigas do Banco de Portugal.
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