24/04/09

Da nossa meritocracia

Imagem retirada do Mentes Brilhantes

A propósito da passagem de mais um ano do 25 de Abril, a SIC apresentou ontem uma reportagem onde questionava, sobre as virtudes e os problemas da nossa democracia, alguns estrangeiros residentes em Portugal. Duas respostas prenderam a minha atenção. Uma senhora inglesa, cujo nome não retive, dizia que o principal problema de Portugal residia na inexistência de um ethos meritocrático. Ao contrário de Inglaterra, ter mérito em Portugal não chega, ou não é condição, para desempenhar determinados cargos mais elevados, contrariamente ao que se passa no Reino Unido. Por outro lado, o escritor norte-americano Richard Zimmler, residente no Porto, dizia que em Portugal havia mais liberdade do que nos EUA para fazer certas coisas: conduzir a 180 km/h, beber três whiskies e pegar no carro, ou copiar nos exames, coisa que o atormentava particularmente.

A senhora inglesa, talvez para ser simpática para connosco, emitiu a ideia de que estaríamos a caminho da meritocracia; seria uma questão de tempo. Claramente, a senhora não entende o povo que somos. Enquanto a batota e a trapaça for tão ampla como hoje, na escola ou na vida social, não se caminhará para aquilo que ela chama meritocracia. Por outro lado, Portugal não é um país desprovido de ethos meritocrático. Inconscientemente, mas muitas vezes de forma consciente, os portugueses valorizam o mérito do trapaceiro, do batoteiro, do que se safa aproveitando os brandos costumes, explorando as obscuridades na lei, daquele que, sem grandes talentos, tem conhecimentos certos ou fez um percurso, cheio de truques e alçapões, numa das juventudes partidárias que interessa. Esse é o mérito que reconhecemos e, de facto, invejamos.

2 comentários:

Alice N. disse...

Tem toda a razão e, enquanto o exemplo vier "de cima", dificilmente se mudarão mentalidades. Precisaríamos de outros políticos, outras chefias, outra justiça, outra educação... Há muito que o diagnóstico está feito, mas, tragicamente, o país não arranca.

jlf disse...

Bem triste e muito verdade.

Ah! (como lhe digo noutro lado) Mas "eu não desisto".

Acredito que em algumas gerações consigamos alterar tal statu quo. NECESSARIAMENTE!!!

abr