11/04/09

Corín Tellado

Ao passar pelo Público on-line, tive uma visitação do passado, ainda por cima uma visitação que veio mostrar a minha ignorância sobre um assunto que tinha uma substancial importância no tempo em que as coisas ainda tinham importância. O Público informou-me, então, da morte da escritora espanhola Corín Tellado. Lembro-me perfeitamente das revistas de fotonovelas com esse nome. Faziam parte do mundo feminino, talvez de certas classes sociais menos cultas, e eram lidas, in illo tempore, avidamente. Não sei se alguma vez toquei, estou a referir-me mesmo ao gesto físico de tocar, numa revista dessas, mas via-as pelas bancas de jornais e nas mãos de muitas raparigas e, claro está, nas mãos das sopeiras, classe social que a revolução dos cravos e a entrada para a CEE veio abolir quase por completo, tendo alterado o nome dos quadros remanescentes, digamos assim. Este era o acervo de informação que eu tinha. Faltava-me o essencial: Corín Tellado era mesmo uma escritora, o nome de uma pessoa que fazia, e muito bem, a vida a partir daquelas novelas. Consta que é a escritora de língua castelhana mais vendida, logo a seguir a Cervantes. Foi muito premiada e agraciada em Espanha e isso deve ter sido muito justo. No fundo, consolou milhões e milhões de corações. Hoje, que estou mais para velho do que para novo, vejo com outra compreensão as coisas. Aquilo que era puro lixo há 30 anos, percebo-o agora como a expressão da necessidade de consolo que todos os seres humanos têm. E, além do mais, um grande mercado para quem tiver o talento da consolação e o dom de consolar.

3 comentários:

José Trincão Marques disse...

Bom regresso.
Há uns anos atrás, eu também desprezava o Marco Paulo. Hoje tenho algum respeito pela sua carreira.

José Ricardo Costa disse...

O que eu acho é que somos todos filhos de Deus e, como tal, todos merecemos respeito. Eu acho as sonatas de Beethoven musicalmente mais interessante do que a "Anita", que é linda de blue jeans, do Marco Paulo. Mas as sonatas de Beethoven não prestam para um bailarico de aldeia e eu gosto dos bailaricos de aldeia. Mas sem as músicas do Marco Paulo e afins não haveria bailaricos de aldeia. Os gregos sabiam o que diziam quando falavam numa ordem das coisas. Está tudo certo.

JR

Anónimo disse...

Mais uma vez a ditadura da maioria a impôr os seus horrendos produtos e a confundir o nosso espírito.
Ponto 1 - Qualquer um que sobreviva da escrita é digno de apreço????
Ponto 2 - O número de exemplares vendidos legitima a qualidade da escrita???
Ponto 3- A High culture e a low culture são realidades que correm em planos absolutamente diversos e não comparáveis.
Não é políticamente correcto pois há mais de 200 anos que as máximas da suposta igualdade imperam de forma ditatorial impedindo o verdadeiro avanço da humanidade.
Beethoven é mesmo superior a Marco Paulo!!!