Recomeçaram as aulas
Recomeçaram as aulas. Lembro a Ministra, no Parlamento, a falar sobre as provas de aferição. Tranquiliza os deputados da oposição de esquerda: não, não servirão para avaliar os alunos, nem serão uma forma de reintroduzir os exames, nos 4.º e 6.º anos. Qual a sua finalidade? Avaliar o sistema, os currículos e os professores. Extraordinário! Servem para tudo menos para o que deveriam servir.
Há em toda a política educativa uma crença subliminar: os alunos não aprendem porque os professores não os ensinam. Haverá casos em que isso é verdade. A generalidade do insucesso escolar reside, porém, noutro lado: na atitude dos alunos, na forma como se relacionam com a escola, com o desprezo que sentem pelo esforço e pelo saber escolar.
É mais fácil fazer demagogia e encontrar um bode expiatório: os professores. Difícil é enfrentar a realidade: Como olham os alunos para a escola? Por que motivo não gostam de se esforçar? Porque não gostam de estudar? Que valor a sociedade atribui ao saber? Tudo isto é incómodo. Ou então a Sr.ª ministra não sabe em que país vive.
Parece inacreditável que uma socióloga não coloque estas questões. Não passará pela cabeça dos ministros da educação a simples ideia dos professores terem razão no que dizem? A escola portuguesa tornou-se um imenso purgatório. Nele, o professor deverá expiar uma culpa ancestral qualquer. Faça o que fizer, trabalhe 50 ou 60 horas, se os alunos não querem estudar, ele será sempre culpado.
Há em toda a política educativa uma crença subliminar: os alunos não aprendem porque os professores não os ensinam. Haverá casos em que isso é verdade. A generalidade do insucesso escolar reside, porém, noutro lado: na atitude dos alunos, na forma como se relacionam com a escola, com o desprezo que sentem pelo esforço e pelo saber escolar.
É mais fácil fazer demagogia e encontrar um bode expiatório: os professores. Difícil é enfrentar a realidade: Como olham os alunos para a escola? Por que motivo não gostam de se esforçar? Porque não gostam de estudar? Que valor a sociedade atribui ao saber? Tudo isto é incómodo. Ou então a Sr.ª ministra não sabe em que país vive.
Parece inacreditável que uma socióloga não coloque estas questões. Não passará pela cabeça dos ministros da educação a simples ideia dos professores terem razão no que dizem? A escola portuguesa tornou-se um imenso purgatório. Nele, o professor deverá expiar uma culpa ancestral qualquer. Faça o que fizer, trabalhe 50 ou 60 horas, se os alunos não querem estudar, ele será sempre culpado.
Por vezes, penso que os ministros da educação são apenas os porta-vozes do ódio que a sociedade portuguesa tem ao saber: o professor pelo simples facto de o ser é já culpado. O aluno, porém, é absolutamente inocente. Quer aprender, o professor recusa-se a ensinar.
3 comentários:
caro Jorge Maia,
essa hipótese das atitudes erróneas do ministério da educação serem o reflexo da (pouca) estima que os portugueses têm do saber, parece-me bem razoável...
parabéns pelo blog. o início é auspicioso. boas "postagens" e abraço.
jss
Para o poder, os "meninos" são intocáveis. Depois das chamadas "décadas de opressão da juventude" (um dos costumeiros complexos de Abril), julgam que ela deve estar à solta, sem regras, sem referências. Destruiu-se propositadamente a relação de respeito e reverência da juventude para com a idade. Perdeu-se um certo sentido de hierarquia etária, onde se partia do princípio lógico de que, à idade, corresponde sabedoria, experiência, riqueza, logo, um necessário respeito e receptividade a observar para com os mais velhos.
Criou-se um igualitarismo etário perigosa e estupidamente artificial!
Por muito lógico que seja este discurso, ele é politicamente incorrecto. Hoje, está na moda dizer-se que os jovens são "o caminho", que os mais velhos é que se têm de rejuvenescer e a partir dos exemplos e dos estilos de vida dos mais novos (o que resulta tantas vezes em tristes figuras).
Em tudo e para tudo, tem de haver um meio-termo, e se tempos houve em que a energia criativa da juventude era pura e simplesmente reprimida, nos nossos dias, essa energia explode e domina, a cada passo, os hábitos e os costumes, enformando toda uma sociedade à imagem da sua natural imaturidade.
A ausência desse meio-termo acaba excluindo a prudência, o conhecimento empírico acumulado, a bagagem histórica e cultural que identifica e orienta uma sociedade, sentimentos que originam a auto-responsabilidade e a ordem social. Este seria o grande contributo das gerações mais velhas, e que vem sendo sistematicamente reprimido ou negligenciado pelas forças vivas.
As próximas gerações estarão reféns deste turbilhão de impulsos das jovens gerações agora dominantes. Perderão com isso uma mensagem, um desígnio, valores, referências.
A questão escolar, passa essencialmente por este fenómeno de 8 ou 80, nas relações inter-geracionais do país. O professor, os auxiliares de educação e quantas vezes os próprios directores, são hoje encarados como iguais… Não se verifica um significativo ascendente destes em relação ao estudante. As autoridades governamentais, os políticos, os intelectuais, todos despiram o elemento docente de toda a sua autoridade, de todo o seu ascendente, de toda a respeitabilidade inerente ao cargo que ocupa. Desde o momento em que foi aberto o precedente da relação de proximidade entre aluno/professor, criou-se a possibilidade, hoje banal, de professores menos imponentes se verem impotentemente desautorizados por alunos mais afirmativos. Ora, para além de desmoralizar o docente (e encorajar outros alunos a proceder com o mesmo à vontade), este tipo de situações enforma a educação cívica dos jovens estudantes, que apreendem uma forma específica de contacto inter-geracional, onde se assume como natural esse nivelamento entre o aluno/jovem e o docente/mais velho.
Naturalmente que não estou a advogar a tradicional relação de subjugo do aluno para com o professor, simplesmente, nem todos os professores estão preparados, ou têm personalidade, para conseguir motivar os estudantes e cumprir os seus objectivos, mantendo essa relação de proximidade descontraída, hoje tão aconselhada ao docente. É esse distanciamento mínimo que salvaguarda o professor das suas próprias lacunas, das suas falências e oscilações emocionais. Quando este abdicar dessa distância, ou for obrigado a tal (por via dos hábitos com que os alunos já lhe chegam), passa a estar exposto precisamente às lacunas, falências e oscilações emocionais não de uma, mas de 20 ou 30 pessoas diferentes. Aí, não há motivação, conversa, grito ou “castigo” que valha. O professor está refém dos alunos.
Parabéns pela iniciativa. Benvindo à blogosfera.
Aliás, penso que, mais cedo ou mais tarde, o próprio professor irá deixar de ter essa designação.
Os contínuos foram transformados em auxiliares de acção educativa, os professores, por uma questão de pudor, irão ser transformados em técnicos de educação ou coisa do género.
"Professor" é uma palavra demsasiado forte. Implica alguém que ensina alguém que aprende. E na escola todos aprendemos com todos, todos nós partilhamos experiências de vida. Um jovem tem tanto para ensinar como um velho professor que leu centenas de livros. Para além disso, tem a mais-valia de ser o futuro e com o futuro não se brinca. Para isso é que servem os choques tecnológicos.
A vantagem do choque tecnológico é que dispensa livros para ler. E, nesse aspecto, até o próprio professor fica com a vida facilitada pois não precisa de ler livros.
Nunca foi tão bom como agora andar na escola
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