26/02/07

O discurso de Le Pen

Em Lille, Jean-Marie Le Pen apresentou-se como o candidato da «vida» e do «povo», para as próximas eleições presidenciais francesas. Centrou o discurso na questão ecológica e no empobrecimento geral dos franceses provocado, em sua opinião, pela imigração, que gera uma forte pressão negativa sobre os salários. Fez uma crítica aguda ao capitalismo globalizado, e mostrou-se favorável a um capitalismo “iluminado”, que visa a defesa da comunidade nacional. O Le Monde, de ontem, sublinhava o carácter quase esquerdista do discurso do líder da extrema-direita francesa.

O drama da política europeia centra-se no facto dos partidos da governação serem já incapazes de sustentar este tipo de discurso, deixando-o para os sectores mais radicais do espectro político, tanto à esquerda, como à direita. A política europeia está presa aos compromissos com a globalização. Ora estes compromissos implicam o empobrecimento geral dos povos europeus em troca de um hipotético futuro melhor, mais rico e mais desenvolvido. O problema, porém, é idêntico àquele que os regimes comunistas colocavam: a ditadura e o sacrifício hoje, para que amanhã o dia seja radioso. O problema deste tipo de raciocínio reside no simples facto das pessoas viverem hoje e o amanhã ser apenas uma promessa vazia e problemática.

O interessante do espectáculo político europeu reside numa contradição estrutural: as organizações políticas que criaram a Europa do Estado-Previdência são as mesmas que estão a desarticulá-la. É isto que significa o empobrecimento de que fala Le Pen. Será que os europeus estão condenados a escolher entre o empobrecimento e a demagogia das organizações radicais, à esquerda ou à direita?

2 comentários:

jss disse...

é este buraco de opções que está a minar a democracia tal como a conhecemos. não é fácil escolher entre mais do mesmo ou coisa nenhuma, e muitas vezes a opção mais fácil acaba por ser não escolher. o caso da França é sintomático deste estado de coisas e pelos vistos já há sondagens que apontam novamente para uma segunda volta com Le Pen. só uma correcção de termos demográficos; o senhor da extrema direita aponta baterias à imigração e não à emigração. abraço, jss.

Jorge Carreira Maia disse...

Toda a razão, Jorge, no caso da da emigração. Quando estava a fazer o post escrevi, primeiro, imigração e depois corrigi para emigração por que me coloquei inconscientemente no lado de quem emigra e não dos que recebem quem imigra. Ainda não me habituei a sermos, também, um país de imigrantes.

Há problemas políticos que me interessam particularmente: 1. o Estado-nação; 2. a possibilidade de uma democracia equilibrada política e socialmente, como suporte desse estado.

Cada vez mais o horizonte me parece negro para essas duas realidades. Abraço, jcm