17/12/08

O desespero


Bento XVI alvitrou que a crise económica poderia ser um caminho para redescobrir o verdadeiro sentido do Natal. Como já muitas vezes disse, sou um admirador de Bento XVI. Mas, mais uma vez, não posso partilhar a esperança dele. Esperar que a crise económica possa abrir o coração dos homens ao mistério do Natal, ao valor da simplicidade e ao sentido da pobreza representado pelo menino que nasce no presépio é desconhecer o coração dos homens. A angústia provocada pela crise económica não é metafísica, é apenas económica. Não é ao divino que toma carne que os homens irão orar, mas ao deus do dinheiro. Mas não foi aos sacerdotes desse deus que aquele que nasceu no presépio de Belém expulsou do templo?

Talvez as palavras do papa Ratzinger sejam não o exercício da virtude teologal da esperança, mas apenas o sintoma de um fundo e mal disfarçado desespero.