A graça de um bom governante
O Ménon é um diálogo de Platão, famoso pela experiência que Sócrates faz com um escravo ignorante para demonstrar que, mesmo sem ensino, ele já trazia um determinado saber. É a famosa demonstração da teoria da reminiscência. No entanto, aquele diálogo platónico tem outros motivos de interesse. Ele gira em torno de uma discussão sobre se a virtude (excelência) política é ensinável. A argumentação inclina-se para a impossibilidade de o fazer. Mas o que me interessa aqui é a conclusão. O que fará de um homem político um bom homem político? De onde lhe advirá a virtude ou excelência política? Do saber, da ciência? Não. Os homens políticos que dirigem rectamente as cidades não se distinguem, em última análise, dos poetas, ou dos adivinhos. Possuem um dom divino. Esse dom divino não é assim transmissível pelo ensino. Ou os deuses o concederam ou não. Esta tese não deixa de ser mais interessante do que a da República, onde Platão argumenta em favor do rei-filósofo, aquele que governa porque sabe o que é a Justiça e o Bem. E tem uma vantagem essencial: mostra a experiência da humanidade relativamente aqueles que a governam. Um bom governante, um governante justo e moderado, parece ser uma excepção, a dádiva dos deuses. Em linguagem cristã, uma graça. Em Portugal, por exemplo, parece que há muito que a graça não visita os nossos governantes.
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