22/12/08

Fora do tempo


De uma coisa não se pode acusar Bento XVI: de flectir o joelho perante o espírito do tempo (aqui). A posição sobre o denominado casamento homossexual e a recusa de uma imagem de Papa pop-star, tão ao gosto de uma certa juventude católica, são sinais de que no Vaticano está alguém que sabe o que quer e sabe, fundamentalmente, que não se deve vender os princípios para comprar sufrágios ou banhos de multidão. Por vezes este Papa faz-me lembrar o velho professor do Violência e Paixão, de Visconti, aquele filme que tanto agrada ao meu amigo Zé Ricardo. Também a mim, diga-se de passagem

4 comentários:

José Ricardo Costa disse...

Vamos lá ver o seguinte. Uma coisa será a preocupação, legítima, relativamente ao desabar de um conjunto de valores que estão na origem da nossa cultura e identidade. Mais: que fizeram da Europa, tirando os desvarios totalitários que a atormentaram, um exemplo de tolerância e pluralismo.

Outra coisa será a doentia obstinação papal perante coisas que não têm nada que ver com valores a não ser que caiamos numa falácia naturalista.

A homossexualidade não é uma questão de valores. Há pessoas que são homossexuais e pronto, é assim. Homens que nasceram a gostar de homens, mulheres que nasceram a gostar de mulheres. Levar para o campo da moral elementos que são da ordem do natural, mais do que falacioso, transforma-se em algo quase psicanalítico. O sexo não deveria ser matéria relevante para um cristão. Acredito que seja para um paulista ou para um agustiniano. Mas eu, como não cristão, tenho o dever de alertar os cristãos para o verdadeiro significado do cristianismo.

JR

José Ricardo Costa disse...

Ah! O Visconti era homossexual...
JR

Jorge Carreira Maia disse...

Sim, a homossexualidade pode ser que seja uma questão de natureza e pronto. Embora eu tenha dúvidas sobre essa mitologia actual. Nem a homessexualidade nem a a heterossexualidade são questões meramente naturais, pois no homem tudo o que é natural é também cultural. Mas pondo isso de lado, há ainda uma outra coisa: o casamento não é uma questão natural. Ele é uma questão cultural e ainda por cima política.

Eu separaria a oposição da Igreja ao casamento homessexual e a sua obsessão pouco crística com o sexo. A obsessão com o sexo provém de duas linhas: Paulo e do platonismo que se infiltra no cristianismo e atinge, de facto, o auge com Agostinho.

É muito curiosa a reacção de Cristo no Evangelho com os "pecados" sexuais. Só lhe falta dizer: bem, não me aborreçam com essa conversa. Não têm coisas mais interessantes para me colocarem?

Mas a obsessão da Igreja com o sexo é a prova que ela é demasiado humana. Como quase todos os seres humanos ela tem uma obsessão com a sexualidade. O Cristo evangélico, de facto, não pertencia a este planeta.

maria correia disse...

Nem Cristo se preocupou com o assunto nem o Visconti se preocupou se era ou não natural ou cultural ou as duas coisas. Amou. E, além de mestre máximo do cinema foi também um grande senhor. Talvez dos últimos à face da Terra, daqueles, à antiga, como o Príncipe...