18/07/09

Um devaneio tipográfico

Quem era este senhor? Tinha por nome Claude Garamond (1480-1561). O que faz aqui o seu retrato? Para dizer a verdade está no lugar de um outro, o de Jakob Sabon, que não consegui. Mas a que propósito vem isto? Para dizer a verdade, vem a propósito do romance de Vergílio Ferreira que acabei de ler, na nova edição das obras completas lançada pela Quetzal. Na última página do livro, a editora coloca a seguinte nota:

«Em Nome da Terra, romance de Vergílio Ferreira, livro da série Obra Completa de Vergílio Ferreira, publicado por Quetzal Editores, foi composto em caracteres Sabon, originalmente criados em 1967 pelo alemão Jan Tschichold (Leipzig, 1902-Locarno, 1974) em homenagem ao trabalho tipográfico de Jakob Sabon (1535-1580), e inspirados nos tipos desenhados por Claude Garamond (Paris, 1480-1561), e foi impresso por Printer Portuguesa em papel Besaya/80 g em Maio de 2009, numa tiragem de 1500 exemplares.»

O que é a espessura da História? É isto mesmo. Um romance escrito no século XX é lido no século XXI, num livro composto em caracteres criados no século XX, em honra de um tipógrafo que viveu na segunda metade do século XVI, que se inspirou no trabalho de outro tipógrafo que viveu umas dezenas de anos antes. Contrariamente ao que a leviandade que tomou conta do mundo pensa, tudo o que fazemos se perde na noite do mundo. A noite do mundo é a História na sua espessura infinita. Nesta pequena nota tipográfica da Quetzal Editores, há toda uma história da tipografia que se entretece com a história da cultura e com a própria História dos homens.

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