15/12/09

Do que não se vê nas imagens



Estas imagens do YouTube são piores, para aquilo que se pretende, que as do Público, mas este não permite a incorporação no blogue dos seus vídeos. Sobre a inaceitável e idiota agressão a Berlusconi já tudo foi dito. Comentar o assunto seria um anacronismo. Mas, ao ver as imagens do Público e depois outras no YouTube, houve uma coisa que me chamou a atenção. Quando lemos uma imagem olhamos para o que a compõe, os elementos que a estruturam, o jogo que entretecem, etc. Mas há sempre qualquer coisa que a enquadra e que raramente é visível. São as imagens arquetípicas, aquelas que uma cultura produziu (por exemplo, a imagem do Che ou da Marilyn Monroe), que dão o horizonte da nossa leitura. As imagens de Berlusconi agredido e a sangrar são enquadradas por dois arquétipos poderosos. O primeiro, enquanto Berlusconi está fora do carro ou é metido à força lá dentro, é a do Conde Drácula. A boca ensanguentada prefigura uma potência infernal, o vampiro, que acaba de espalhar mais um pouco de mal sobre a terra. Mas a estes breves segundos, seguem-se outros diametralmente opostos. Berlusconi recostado no carro, a face rasgada, é uma refiguração de Cristo martirizado, vítima sacrificial, o protótipo do redentor. Aquilo que não se vê é o que permite a leitura da imagem visível. Provávelmente é assim, de ambas as maneiras e em conformidade com o coração de cada um, que o vêm os italianos.

1 comentário:

maria correia disse...

O que mais uma vez dá razão à frase «uma imagem vale mais do que mil palavras». E muitas vezes essa imagem é subliminar. Quem trabalha em publicidade sabe bem disso. Ou quem se ocupa daquilo em que os nazis foram mestres supremos: propaganda. Os americanos aprenderam com eles. Estas imagens de Berlusconi agredido possuem a força dos paradoxos: Virgem e Prostituta, Mártir e Carrsaco, Vampito e Cristo Sofredor. Talvez quem agrediu Berlusconi afinal só lhe tenha feito bem.