17/08/09

Equilibrar o barco

Na década de oitenta, uma Direita vitoriosa passou à ofensiva. No mundo anglo-saxónico, os regimes de Reagan e Tatcher, após terem enfraquecido o mundo operário, reduziram a regulamentação e a redistribuição. Alastrando desde a Inglaterra ao continente europeu, a privatização do sector público, os cortes na despesa social e elevados níveis de desemprego suscitaram uma nova norma de desenvolvimento neoliberal, que viria a ser implementado pelos partidos da Esquerda não menos do que pela Direita. No final da década, a missão desempenhada, no pós-guerra, pela social-democracia na Europa Ocidental - o Estado-providência baseado no pleno emprego e no provimento universal - fora, em grande parte, abandonada pela Internacional Socialista. [Perry Anderson (1998). As Origens da Pós-Modernidade. Lisboa: Edições 70, pp. 122]
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O que assistimos com a governação Sócrates foi a realização em Portugal daquilo que outros partidos da Internacional Socialista já tinham feito: trair a sua própria tradição e abandonar o pacto social-democrata que eles, juntamente com a democracia-cristã, tinham construído em nome de uma sociedade equilibrada. Isto coloca claramente um problema a esses mesmos partidos: para que servem eles? De certa forma, o espectro político europeu tornou-se redundante. Os partidos políticos da área de governo têm as mesmas políticas. Contrariamente ao que se quer fazer crer, não há qualquer alternativa para as próximas eleições. PSD e PS representam absolutamente a mesma coisa e os mesmos interesses, obedecem aos mesmo imperativos, possuem as mesmas fidelidades, servem os mesmo senhores, ajoelham perante os mesmo ídolos. Aí não há alternativa. O problema remanescente tem a ver com os eleitores da esquerda democrática. Não se revêm nas formações de inspiração marxista-leninista, mas também não se revêm nas sociedades que os partidos da Internacional Socialista estão a construir, sociedades acintosamente injustas, sociedades de uma diferença de classes abissal. Para esses, a única saída é a radicalização do voto. Se a esquerda democrática colapsou e se converteu aos ideários da direita, com o fanatismo dos conversos, resta apenas tentar equilibrar o barco.

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