13/07/08

Exodus - XX

Veio, entre os cabelos havia nuvens
e da boca saíram palavras como tronos.
Visito a maldade dos pais sobre os filhos,
e depois partiu. A janela embaciada abriu-se.
No chão, estilhaços, restos de garrafas partidas,
aqui um gargalo ainda sóbrio, guardanapos
de papel ensebados pela boca, cascas
desvairadas pelo trabalho das mãos.
Ouvia-se uma melodia no saguão,
mas os sonhos eram trevos desfolhados,
um caule, o sobejo da raiz a baloiçar
ao vento da tarde, da janela o sopravam.

Toda a matéria da vida era um rumor,
palavras sussurradas, gestos inacabados,
suspensos no último instante.
No horizonte, um vórtice, mas a chama
apagada não se reacendia e tudo
era um barco esquecido sobre a pálida
areia, a quilha ao abandono, os remos
carcomidos, a madeira oca pelo sal,
a tudo infecta. Havia canaviais, o vento os tocava,
e a luz, pois luz era, neles se escondia,
sombreando as tardes onde o sol se punha.

Jorge Carreira Maia (2007). Exodus.

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